Dia do orgulho hétero é preconceituoso, provocativo e desnecessário, diz ativista.
Por: Raoni Scandiuzzi, Rede Brasil Atual
São Paulo – A proposta de criação de um dia nacional do orgulho heteressexual é preconceituosa, provocativa e desnecessária, na visão do presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis. Um projeto na cidade de São Paulo foi aprovado no início do mês pela Câmara de Vereadores.
Em junho, a ideia foi levada ao Congresso Nacional pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas recusada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Neste mês, Cunha pediu a realização de audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e ingressou com recurso contra a recusa de Maia.
Toni Reis diz não ver fundamentação real para a proposta. “Não conheço nenhum heterossexual que foi morto, espancado ou discriminado por ser heterossexual”, observa o ativista, que analisa o levante como uma reação ao avanço nos direitos homossexuais, como o reconhecimento de que a união civil homoafetiva deve ser considerada como unidade familiar. “A vitória unânime no Supremo Tribunal Federal, quando foi consagrado o direito à igualdade no Brasil, mexeu com o brio de certo setores mais reacionários e conservadores da sociedade”, explicou.
A justificativa apresentada por Cunha é de que a proposta vai "resguardar direitos e garantias dos heterossexuais de se manifestarem". Para o deputado, o combate ao preconceito não deve servir ao surgimento de novos preconceitos, o que, na visão dele, fará os heterossexuais passarem a ser encarados como reacionários. "Acabam criando outro tipo de discriminação contra os heterossexuais e além disso de estimulo da 'ideologia gay' supera todo e qualquer combate ao preconceito."
Mesmo favorável a que todas as pessoas possuam orgulho do que são, o ativista considera a proposta para a implantação do dia do orgulho hétero “uma piada de mau gosto", por começar a levantar uma "falsa polêmica" que prejudica a luta pela ampliação dos direitos homossexuais. Uma das bandeiras que pode ser prejudicada é a tramitação do projeto de lei que criminaliza a homofobia – cuja nova versão deve homenagear Alexandre Ivo, jovem morto em 2010 em um crime de ódio.
“É fundamental que se criminalize a homofobia, tendo em vista os altos índices de violência enfrentados pela comunidade LGBT no Brasil. Mais de 70% de nossa comunidade já foi discriminada e 20% já sofreu violências físicas, isso é uma realidade comprovada”, garante Toni Reis.
Para o autor do projeto conseguir apresentar sua proposta de instaurar o dia do orgulho heterossexual no terceiro domingo de dezembro, será necessária a realização de uma audiência pública. A etapa é exigida pelo regimento da Câmara para que se instalem datas comemorativas. Quando a audiência ocorrer, Toni Reis garante que irá participar se for chamado. “Como presidente da ABGLT, estou disposto a dialogar com qualquer setor da sociedade, desde que impere o respeito”, destaca o ativista.
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