domingo, 26 de junho de 2011

15ª Parada - Como o "orgulho" saiu do armário

Comovente, "A Revolta de Stonewall" mostra como orgulho gay saiu do armário
Roberto de Oliveira
Editor da revista São Paulo

Nem só de plumas e purpurina embaladas por música bate-estaca e "vinho" barato se faz uma parada gay. Para entender como tudo começou, vale a pena assistir, após a ferveção na Paulista, ao documentário "A Revolta de Stonewall", que o canal GNT exibe nesta noite, que integra o especial: Diversidade Sexual. Bom saber que a escolha do último domingo de junho para celebrar a diversidade, a tolerância e o orgulho gay não é obra do acaso.

Tudo começou em junho de 1969, no bar Stonewall Inn, ícone gay cravado no coração do Greenwich Village, bairro nova-iorquino, após uma batida policial.

Naquela época, a homossexualidade era considerada "distúrbio mental". Para "curar" esse "tipo de psicopatia", gays eram tratados, acredite, com eletrochoque.

Esterilizados e castrados, alguns foram submetidos a lobotomia. Outros tomavam um remédio que dava sensação de afogamento, uma tortura farmacológica, revelam as cenas estarrecedoras.

Polícia Drag Queen
Gays tinham nome, idade e até endereço publicados nos principais jornais norte-americanos, depois de serem presos por "ato imoral" ou "obsceno". Sair do armário era algo inadmissível.

Em depoimentos emocionantes, personagens que frequentavam o bar lembram que policiais entravam disfarçados no Stonewall (até de drag queens), convidavam os clientes a fazer programa e os prendiam por "prática indecente".

Num momento crucial da história, em que não existiam leis favoráveis aos gays, a revolta começou a dar um basta naquilo tudo.

Fartos de ataques violentos, prisões ilegais e extorsões pelo simples fato de estarem em um bar gay, frequentadores decidiram, enfim, enfrentar a polícia.

Voaram cadeiras, lixeiras incendiárias e garrafas por todo lado. Uma multidão se formou diante do bar, aos gritos de "porcos" e "fichichas" - referência à propina paga aos policiais.

Outros gays se juntaram ao protesto, que se estendeu pelas ruas do bairro. Os conflitos consagraram-se como marco, o primeiro de resistência pública da história dos homossexuais.

Logo a notícia se espalhou por guetos gays mundo afora. Um ano mais tarde, aqueles mesmos resistentes foram para as ruas de Nova York no que resultou na Parada do Orgulho Gay.

Ao final do documentário, percebe-se que a Revolta de Stonewall foi mais uma grande conquista dos direitos humanos. No encerramento da festa paulistana, reflexão e informação ajudam, sim, a ampliar o leque da diversidade. Seja ela qual for.

Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, de 26 de junho de 2011.

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